quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CRIANÇA, SUJEITO DAS PRÁTICA PEDAGÓGICAS

Podemos iniciar a reflexão enfocando a criança, sujeito de práticas pedagógicas, e suas relações com a sociedade atual. Para tanto, é necessário tornar presente as relações passado-presente-futuro, buscando compreender, através da trajetória da infância na história, o que é ser criança hoje. Consideremos a brincadeira como espaço de aprendizagem, de imaginação e de reinvenção da realidade. De acordo com Vygotsky (1987b), no início da vida da criança, sua ação sobre o mundo é determinada pelo contexto perceptual e pelos objetos nele contidos. Entretanto, quando se iniciam os jogos de faz-de-conta, há um novo e importante processo psicológico para a criança, o processo de imaginação, que lhe permite desprender-se das restrições impostas pelo ambiente imediato. A criança é agora capaz de modificar o significado dos objetos, transformando uma coisa em outra. Assim, o campo de significado se impõe sobre o campo perceptual. Esse processo tem implicações importantes no desenvolvimento da criança, particularmente naquilo que se refere à construção de significados sobre o mundo que a cerca. Há um aumento da flexibilidade em usar os objetos, a partir da flexibilidade em instaurar-lhe novos significados pelo processo de imaginação. Essa nova forma de operação com significados abre-lhe um novo campo de compreensão e de invenção da realidade.

Para as crianças, um cabo de vassoura torna-se cavalo e com ele galopa para outros mundos, pedrinhas viram comidinhas e com elas faz deliciosos e saborosos pratos, um pedaço de tecido transforma-as em príncipes, princesas ou heróis, conduzindo-as aos castelos, campos e outros tempos e lugares. Ao criar suas histórias de faz-de-conta, retira os elementos de sua fabulação das experiências reais vividas anteriormente, mas combina esses elementos, produzindo algo novo. Essa capacidade de compor e combinar o antigo com o novo é a base da atividade criadora do homem (Vygotsky, 1987a). O brincar é, portanto, uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento das crianças pequenas. Através das brincadeiras, a criança pode desenvolver algumas capacidades importantes, tais como: a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Ao brincar, as crianças exploram e refletem sobre a realidade a cultura na qual vivem, incorporando e, ao mesmo tempo, questionando regras e papéis sociais. Pode-se dizer que nas brincadeiras as crianças podem ultrapassar a realidade, transformando-a através da imaginação. Embora o jogo de faz-de-conta seja caracterizado pela dimensão imaginária, é preciso, segundo Vygotsky, argumentar que, ao lado do desprendimento possibilitado pela imaginação, encontra-se a subordinação às regras impostas pela realidade.



Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e, mais tarde representar determinado papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.
A diferenciação de papéis se faz presente sobretudo, no faz-de-conta, quando as crianças brincam com se fossem o pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente, heróis e vilões, etc; Imitando e recriando personagens observados ou imaginados nas suas vivências. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro.
No faz-de-conta, as crianças aprendem agir em função da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para elas no  momento em que evoca emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la. Os heróis, por exemplo lutam contra seus inimigos, mas também podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo.
Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imitar, imaginar, representar e comunicar de uma forma específica que, uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser uma personagem, que uma criança pode ser um objeto ou um animal, que um lugar “faz-de-conta” que é outro. Brincar é assim, um espaço no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo 1ue os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento presente. Pela repetição daquilo que já conhecem utilizando a ativação da memória, atualizam-se os conhecimentos prévios, ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma situação imaginária nova. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças, baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade sem ser ilusão ou mentira. Também tornam-se autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata.
Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, as crianças enriquecem sua identidade, porque podem experimentar outras formas de ser e pensar, ampliando suas concepções sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vários papéis sociais ou personagens. Na brincadeira, vivenciam concretamente  a elaboração e negociação de regras de convivência, assim como a elaboração de um sistema de representação dos diversos sentimentos, das emoções e das construções humanas. Isso ocorre porque a motivação da brincadeira [e sempre individual e depende dos recursos emocionais de cada criança, que são compartilhados em situações de interação social. Por meio da repetição de determinadas ações imaginadas que se baseiam nas polaridades presença/ausência, bom/mal, prazer/desprazer, passividade/atividade, dentro/fora, grande/pequeno, feio/bonito, etc., as crianças também podem internalizar e elaborar suas emoções e sentimentos, desenvolvendo um sentido próprio de moral e de justiça.

A esfera lúdica permite a relação dialética entre a fantasia e a realidade. Como ilustração dessas relações contraditórias, pode-se observar o uso dos objetos pela criança: objetos usados de acordo com suas funções reais (panelinha para fazer comidinha) e objetos usados com novos significados (panelinha usada como tambor); ações concretas e literais (mexe com uma colher a comidinha imaginada) e ações substitutivas (vira a panelinha para baixo e bate com a colher imitando o som do tambor). Essa flexibilidade tem na sua base o conhecimento e a vivência que a criança tem do objeto e a capacidade da criança de ignorar-lhe certas características, ao mesmo tempo em que deve considerá-las para que a ação substitutiva seja possível (um pedaço de pano não serviria como tambor, uma vez que não produziria som).

Também é possível identificar relações dialéticas entre a imaginação e a realidade: na convivência do “eu” real da criança com o “eu” dos papéis representados; papéis e relações já vividos e papéis e relações não vivenciados; ações reproduzidas e ações antecipadas/criadas; a utilização da linguagem nas narrativas das situações imaginadas, como falas dos papéis e sua utilização como instrumento de planejamento, de negociações, de explicitações, instruções; as formulações em tempo passado daquilo que se vai fazer no futuro (“agora eu era o príncipe”); o desenrolar do jogo em dois planos simultâneos: o tempo e o espaço físico concreto e o tempo e o espaço físico simbólicos. O processo de imaginação, estreitamente relacionado ao brincar, é a base de qualquer atividade criadora, sendo condição para a criação artística, científica e técnica.

Quanto mais possibilidades tiverem de desenvolver sua imaginação, mais criativas serão nas suas ações/interações com a realidade.Uma outra tendência, é a utilização da brincadeira como instrumento didático. O brincar, nessa perspectiva, é concebido como preparação para a escolaridade futura, através da sua transformação em exercícios e treinamentos. O educador usa a brincadeira para ensinar noções e habilidades como cores, formas, partes do corpo, numerais, entre outras. É usada como forma de sedução e treinamento para a aprendizagem.

A chave para uma boa intervenção do educador nas brincadeiras é a observação e o respeito pelas escolhas das crianças, o que só é possível pelo conhecimento do jogo da criança, do que brincam, de como brincam, de sua cultura, de sua lógica própria. Dessa forma, brincar junto com as crianças e partilhar verdadeiramente com elas essa experiência torna-se um imperativo, para formar sujeitos criativos, fazedores de sua história.
E qual o papel dos educadores nas brincadeiras? Em primeiro lugar é necessário salientar a importância da observação das brincadeiras das crianças como fonte de conhecimento das mesmas quanto às suas formas próprias de pensar e agir sobre o mundo. Além de observar, é fundamental que os educadores compartilhem das brincadeiras das crianças fornecendo-lhes espaço, tempo e materiais apropriados e convidativos para o brincar, e auxiliando-as quando solicitados. Muitas vezes, o educador é convidado a participar da brincadeira e a desempenhar um papel. Essa participação deve ser orientada pela observação e pela escuta cuidadosa das crianças e de como decidem o desenrolar da situação imaginária. É preciso que o educador não imponha seus desejos e vontades, do contrário ele poderá destruir a brincadeira das crianças. Através do respeito às decisões e escolhas das crianças, o educador poderá ser um participante (não um orientador) que busca enriquecer a brincadeira trazendo novas indicações e relações que poderão ser estabelecidas.

ENTENDENDO O CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIl NO BRASIL

O limite entre criança e adulto é complexo, pois este limite está associado à cultura, ao momento histórico e aos papéis determinados pela sociedade. Estes papéis dependem da classe social-econômica em que está inserida a criança e sua família. Não tem como tratar a criança analisando somente sua ‘natureza infantil’, desvinculando-a das relações sociais de produção existente na realidade.

No Brasil, o surgimento das creches foi um pouco diferente do restante do mundo. Enquanto no mundo a creche servia para as mulheres terem condição de trabalhar nas indústrias, no Brasil, as creches populares serviam para atender não somente os filhos das mães que trabalhavam na indústria, mas também os filhos das empregadas domésticas. As creches populares atendiam somente o que se referia à alimentação, higiene e segurança física. Eram chamadas de Casa dos Expostos ou Roda. Em 1919 foi criado o Departamento da Criança no Brasil, cuja responsabilidade caberia ao Estado, mas foi mantido na realidade por doações, que possuía diferentes tarefas: realizar histórico sobre a situação da proteção a infância no Brasil; fomentar iniciativas de amparo à criança e à mulher grávida pobre; publicar boletins, divulgar conhecimentos; promover congressos; concorrer para a aplicação das leis de amparo à criança; uniformizar as estatísticas brasileiras sobre mortalidade infantil.

Em 1970 existe uma crescente evasão escolar e repetência das crianças das classes pobres no primeiro grau. Por causa disso, foi instituída a educação pré-escolar (chamada educação compensatória) para crianças de quatro a seis anos para suprir as carências culturais existentes na educação familiar da classe baixa. Nos anos 80, os problemas referentes à educação pré-escolar são: ausência de uma política global e integrada; a falta de coordenação entre programas educacionais e de saúde; predominância do enfoque preparatório para o primeiro grau; insuficiência de docente qualificado, escassez de programas inovadores e falta da participação familiar e da sociedade.

Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, os municípios são responsáveis pela infância e adolescência, criando as diretrizes municipais de atendimento aos direitos da criança e do adolescente e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, criando o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do Adolescente. Nos anos 90, o Estado brasileiro vê na privatização das empresas estatais o caminho para resolver seu problema de déficit público, não tentando resolver com um projeto mais amplo de ampliação industrial. Com essa situação, na educação tem-se aumentado a instituição de programas de tipo compensatório, dirigido para as classes carentes. Esse programa requer implementação do sistema de parceria com outras instituições, já que o Estado está se retirando de suas funções. A educação infantil é muito recente, sendo aplicada realmente no Brasil a partir dos anos 30, quando surge a necessidade de formar mão-de-obra qualificada para a industrialização do país. E a educação infantil pública é muito ineficiente devido à politicagem existente no governo brasileiro, que está favorecendo a privatização da educação, como a de outros setores também.